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  • Folha de São Paulo
    09/01/2011

    Desapropriação para ampliar Viracopos começa

    O prefeito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos (PDT), um dos maiores defensores da ampliação de Viracopos, tem feito de tudo para viabilizá-la.
    Negociou com Lula a mudança da posição da segunda pista, de forma a minimizar os custos políticos de desapropriação.
    O projeto original atingiria uma área ocupada por 40 mil habitantes. Com a manobra, conseguiu recuar a pista para uma região menos povoada, embora de maior impacto ambiental.
    A prefeitura tem outros planos para as terras que escaparam da desapropriação: torná-las áreas nobres, alterando o zoneamento urbano. Com isso, poderão abrigar de hotéis a parques logísticos.
    "O objetivo é dar àquelas famílias a oportunidade de sair espontaneamente, mas ganhando com a valorização das áreas", diz o prefeito.
    No Parque Central, bairro que será afetado pela expansão de Viracopos, paira no ar um misto de dúvida e incerteza. É assim que o técnico em tratamento de água Miguel Neri da Silva diz se sentir. Ele é um dos primeiros a assinar a venda da propriedade, de 1.000 m2, para a Infraero, por R$ 129 mil.
    Até agora, foram ajuizadas 120 ações de desapropriação. A previsão é que sejam 890, a um custo de R$ 150 milhões.

     

     

    Folha de São Paulo
    09/01/2011

    É melhor ampliar Viracopos do que começar tudo do zero
    JORGE EDUARDO LEAL MEDEIROS

    O transporte aéreo de São Paulo é atendido quase totalmente por Congonhas e Cumbica (Guarulhos). Como o governo diz que esses dois aeroportos estão no limite de suas capacidades, já se estuda o terceiro aeroporto.
    Isso é recomendável e saudável, mas Viracopos já existe, atende diretamente uma boa parcela do interior do Estado e talvez seja melhor ampliar do que começar do zero.
    O plano de Viracopos previa duas pistas paralelas independentes, mas a prefeitura nada fez contra a ocupação irregular, chegando depois a incentivar com melhorias a área prevista para a segunda pista (Jardim São Domingos e Itaguaçu).
    Com isso, a desapropriação prevista tornou-se problemática, levando à mudança da localização da segunda pista, com impactos na única área de cerrado existente no Estado.
    Até 2008, Viracopos era um aeroporto essencialmente cargueiro, mas a estreia da Azul, em dezembro daquele ano, fez com que o número de seus passageiros em 2010 fosse mais de quatro vezes o de 2008.
    Fez também com que a TAM e a Gol aumentassem sua presença ali, mas a Azul, que tem em Viracopos o polo central (hub) de suas operações, domina, com 65%.
    Operando 26 aviões, a Azul deve receber mais 20 neste ano e, com isso, a demanda em Viracopos deve continuar crescendo fortemente. É uma pena que o aumento observado de demanda, que implicou incremento de receitas, não tenha resultado na melhora, nem mesmo na manutenção, da qualidade dos serviços prestados aos usuários.
    Isso fica claro no estacionamento, em que não houve aumento no número de vagas. O terreno não é pavimentado nem há iluminação noturna apropriada.
    Possui, no entanto, preços semelhantes ou superiores aos do aeroporto de Guarulhos, onde há iluminação e pavimentação.
    Em fevereiro de 2001, Fernando Perrone, então presidente da Infraero, anunciava, ainda para aquele ano, tanto o início das obras do terceiro terminal em Guarulhos como as desapropriações para a construção da segunda pista em Viracopos.
    Dez anos depois, a obra de Guarulhos está longe de ser concluída. A Infraero já avisou que só 60% do terminal estará concluído na Copa de 2014. E as desapropriações em Campinas ainda não se concretizaram.
    O novo governo tem a obrigação de tirar do atoleiro as obras aeroportuárias necessárias. O tempo passa, mas ainda há tempo. Por pouco que seja.


    JORGE EDUARDO LEAL MEDEIROS é engenheiro de aeronáutica e professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).

     

     

    Folha de São Paulo
    09/01/2011

    Obras em aeroportos serão insuficientes
    Estudo mostra que, mesmo com ampliação de Viracopos e Guarulhos, demanda não será atendida já em 2016

    Mesmo que o governo, via Infraero ou por meio de concessões à iniciativa privada, consiga cumprir o cronograma de obras de ampliação de Viracopos e do terceiro terminal de passageiros em Guarulhos, o ganho de capacidade não será suficiente para acomodar o crescimento da demanda por transporte aéreo em São Paulo.
    Estudo da consultoria Bain & Company mostra que, já em 2016, a capacidade estará aquém da demanda. A consultoria estima movimento de 75,6 milhões de passageiros por ano em 2016, enquanto a capacidade projetada é de 68,4 milhões.
    "Independentemente dos investimentos previstos para Guarulhos e Campinas, São Paulo precisa de um novo aeroporto na região metropolitana", diz André Castellini, sócio da Bain.
    Nem mesmo o projeto do plano diretor de Campinas, que prevê ampliar a capacidade do aeroporto para 60 milhões a partir de 2025, conseguirá se antecipar à demanda. Para 2022, a previsão é que a demanda em São Paulo passe de 126 milhões.
    "Campinas vai atender o interior. A distância do centro de São Paulo inviabiliza Viracopos como alternativa de médio prazo."

    O MAIS LONGE

    Levantamento feito pela consultoria com as 25 maiores cidades do mundo mostra que nenhuma é servida por um aeroporto tão distante como Viracopos é de São Paulo (90 km). A maioria dos aeroportos está situada em raio de 20 km a 40 km do centro. O mais distante é Narita, a cerca de 60 km de Tóquio.
    A Azul até tem atraído passageiros de São Paulo para Campinas, mas não muitos.
    A empresa não revela quantos. Diz apenas que, de um total de 16 mil passageiros transportados por dia, 2.000 chegam a Viracopos nos ônibus disponibilizados pela companhia, com saídas de São Paulo, Jundiaí, Piracicaba, Americana e Sorocaba.

    INICIATIVA PRIVADA

    O ministro da Defesa, Nelson Jobim, já declarou que o governo deve conceder à iniciativa privada a construção e a exploração de novos aeroportos -projeto que independe dos planos de abrir o capital da Infraero na Bolsa.
    Entre os projetos que devem ir para a iniciativa privada está o terceiro aeroporto da região metropolitana de São Paulo.
    A Folha apurou que o projeto das construtoras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, de construir um aeroporto em Caieiras, tem o apoio da presidente Dilma Rousseff e deve sair do papel.
    Os projetos de Caieiras e de ampliação de Viracopos são apresentados muitas vezes como antagônicos. A Azul acredita que a pista da Caieiras, localizada em direção perpendicular à pista de Viracopos, pode restringir a capacidade em Campinas.
    Teme-se que, ao deixar Caieiras para a iniciativa privada, o governo perca o estímulo para ampliar ainda mais a capacidade de Viracopos e construir o trem de alta velocidade ligando Campinas a São Paulo e Rio.
    Já os defensores do projeto de Caieiras temem que o trem-bala reduza a demanda do aeroporto.
    Por trás do debate está uma disputa comercial entre TAM e Gol, simpáticas ao projeto de Caieiras, e Azul, companhia que mais se beneficiará da ampliação de Viracopos.

    (MARIANA BARBOSA e AGNALDO BRITO)

     

     

    Folha de São Paulo
    09/01/2011

    Movimento em Viracopos cresce 345%
    Com impulso da Azul, aeroporto de Campinas se torna terceira opção para passageiros de SP e já está saturado
    MARIANA BARBOSA

    Enquanto o governo não decide se São Paulo terá ou não um terceiro aeroporto, Viracopos, a 90 quilômetros do centro da capital, está se transformando, na prática, em uma terceira opção para o viajante paulista.
    Após anos na ociosidade, o aeroporto de Campinas transportou 4,9 milhões de passageiros em 2010, alta de 345% ante 2008 -uma das maiores taxas de expansão do mundo.
    Além do ambiente econômico favorável, o crescimento se explica pela chegada da Azul Linhas Aéreas, em dezembro de 2008.
    Sem roubar passageiros da TAM e da Gol, que também cresceram, a Azul já conquistou 7,2% do mercado brasileiro, tendo Viracopos como base principal.
    Com 132 voos para 23 destinos, a Azul é responsável por 65% da capacidade do aeroporto. Para acomodar essa demanda enquanto não sai do papel a obra de ampliação -que prevê novo terminal e nova pista até 2015-, a Infraero vai construir um "puxadinho" de R$ 5 milhões.
    O chamado MOP (Módulo Operacional) deve ficar pronto em maio e elevará a capacidade de Viracopos dos atuais 3,5 milhões para 5 milhões de passageiros por ano.
    O MOP ampliará de 32 para 57 o número de balcões de check-in, mas já deverá estar saturado na inauguração.
    A Azul estima acrescentar "pelo menos mais 1 milhão de passageiros" a Viracopos em 2011, afirma o diretor de relações institucionais, Adalberto Febeliano.
    O MOP, que deve ser destruído com o atual terminal quando todas as fases do plano de expansão saírem do papel, não resolverá problemas como a falta de portões de embarque, cuja capacidade foi reduzida em julho.
    Viracopos tem sete portões, mas, desde julho, quando a portuguesa TAP iniciou operações no terminal, só cinco são usados para voos domésticos.
    Por determinação da Receita Federal, os outros dois terminais estão dedicados aos voos internacionais -que acontecem só uma vez ao dia, três vezes na semana.
    "Outros aeroportos, como Brasília, fazem a conversão dos portões para voos domésticos nas horas em que não há voo internacional. Mas em Campinas a Receita não permite", diz Febeliano.

    PLANO DIRETOR

    O plano diretor para Viracopos (um projeto de longo prazo cujo foco é dar as características do aeroporto de Atlanta ao terminal) prevê até quatro módulos e uma terceira pista, o que permitiria o atendimento de 60 milhões de passageiros por ano.
    Hoje, o aeroporto de Guarulhos, o maior do país, atende 26 milhões.
    A primeira fase da expansão, com as construções de um novo terminal de passageiros e um pátio de estacionamento de avião, entre outras melhorias, está orçada em R$ 737 milhões, com previsão de conclusão no fim de 2013. Integra essa etapa a construção de uma segunda pista, prevista para 2015.
    Essa primeira fase do projeto, excluindo a pista, elevará a capacidade do aeroporto para 10 milhões de passageiros. O projeto está em fase de licenciamento ambiental. Decisão do Consema (Conselho Estadual de Meio Ambiente) sobre o projeto é aguardada para o dia 27.

     

     


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